Whatsoever - Terra do Nunca :: Nunca Antes Visto
Whatsoever - Terra do Nunca
Escrito por: Anónimo
Falta um mês e meio para o meu aniversário. Décimo oitavo aniversário. A partir do dia 17 de Maio passo a ser considerada apta para exercer certos direitos da vida pública, que até aí me são negados, coisas de adultos – gente responsável, íntegra, escorreita, enfadonha… Uau! Vou poder conduzir, votar, casar-me sem a autorização dos meus pais, ir presa, e até envolver-me com homens mais velhos. Vou deixar de ser menina, pura e inocente.

Mal posso esperar para ser grande! Arranjar um emprego das nove às cinco, ter um mês de férias por ano, entrar em depressão, enterrar-me em comprimidos, passar os dias tipo zombie, tornar-me numa junkie quando os anti-depressivos deixarem de ser suficientes, e suicidar-me, quando chegar à conclusão de que o rehab não resulta e o meu dealer não aceita o meu rim em troca de heroína.

Quando é que isto começou? Este processo de “acizentação”. Eu era uma criança tão feliz e cheia de vida… mas, algures no tempo, esse meu lado começou a morrer. Tudo o que era pueril e ingénuo em mim, extinguiu-se, e tornou-se lúgubre. Atrofiou-se-me a alegria e espontaneidade própria de quem ainda não sabe que até o Sol um dia há-de morrer. Fui brutalmente arrancada do Vale Encantado e arrastada para um baldio deserto e cheio de ervas daninhas, terra seca e estéril de magia. Quero regressar! Eu não moro aqui, e quero ir para casa. Quero voltar a dormir na minha cama. Mas a Alice cresceu, e já não cabe na porta… o País das Maravilhas apodreceu, cobriu-se de pó e teias de aranha e o coelho branco foi decapitado.

Eu gosto de ter dezassete anos, é uma idade adorável, não tenho rugas nem preocupações, além disso, agora é especialmente divertido cantar a Dancing Queen dos Abba (“…young and sweet, only seventeen…”). Com qualquer outra idade, cantar esta canção não tem o mesmo significado.

Desconfio, seriamente, que corro um certo risco de, a um determinado ponto da minha vida, vir-me a tornar numa daquelas velhas com um pano preto na cabeça e umas chinelas de ir apanhar batatas nos pés. Aquelas tristes que vão a todas as missas da semana. Enfim, pode ser que, a longo prazo, o maior acontecimento do meu ano venha a ser aquela missa da Páscoa que dura duas horas. Pronto, claro que não é assim que eu me imagino daqui a muitos anos, claro que fantasio um futuro brilhante para mim. Mas, e se um dia me olhar ao espelho e vir alguém de quem não gosto? Uma mulher deprimente e tediosa, cansada da vida. E se aos cinquenta anos eu for gorda e rabugenta? Talvez venha a viver num T1 em ruínas cheio de gatos, ainda mais gordos do que eu, amargurada e sem amigos.

Crescer assusta-me um bocado, no início da nossa vida sonhamos imenso e conjecturamos vidas perfeitas. Infelizmente, à medida que envelhecemos, esses planos tornam-se gradualmente mais modestos e menos ousados. Se crescer implica despertar para uma realidade crua e expulsar o Peter Pan que há em mim, desenvolver uma casca dura e imune a sorrisos e brincadeiras, então prefiro permanecer na Terra do Nunca, e continuar a acreditar em fadas. Ao menos aqui, consigo pensar em coisas boas e voar.




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Blogger Dexter argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
que lindo *.*

mas olha, paciência, vais ser velha rabugenta, vais ter gatos gordos e vais a missa todos os domingos! bem podes tentar mudar isso, mas ninguém muda o destino. e eu como bruxo, acredito no destino e que é possível prevê-lo. como já li a tua sina, restam-te dias tristes e de tédio, onde te vai apetecer morrer asfixiada no teu próprio vómito ao estilo Jimmy Hendrix ou com um tiro na cabeça à la Kurt Cobain. Nem os comprimidos te vão salvar de uma vida deprimente e de arrependimento, onde todos os dias vais pensar, se eu não tivesse feito isto, se eu não tivesse feito aquilo. Porque a vida é feita de baixos, e o Peter Pan morre a partir dos doze anos, o Pais das Marivalhas a partir dos oito e posso continuar a enumeração. A partir de agora a politica e o dinheiro é que te vai moer a cabeça e a tua única ajuda vai ser o estúpido e enfadonho amor.

Fuck Life!
27 de março de 2009 às 06:52  
Anonymous Anónimo argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
ai ai ai...tanto pessimismo rapariga.

Até me senti um bocado insultado com este post. Quem é que te meteu na cabeça que saires dos 17 significa saires da Terra do Nunca, pah?ai ai ai...

Crescer é foda...até que nos apercebemos disso.

Contrariamente ao que o Dexter diz.o que vem daqui para a frente acaba por bater aos pontos tudo o que de melhor fizeste até aos 17.

é muito giro ser criança e lá lá lá pk n tems responsabilidades mas pelo contrário temos todas akelas obrigações de "chavalo".

Nao te digo k crescer é um mar de rosas mas é bem divertido. Sentires que és "senhora" de ti, do teu destino. Quando te apercebes que se quiseres voar para qualquer lado e deixares tudo para trás, podes fazê-lo, vais ver...sabe bem.

E depois há outras coisas...coisas engraçadas...como andares na rua e veres as mães a dizerem aos putos "deixa passar a senhora", ou então estares com amigos mais novos que tu e puderes dizer com toda a tranquilidade, "deixa estar. eu já passei por isso e tu também vais passar. Pode parecer díficil agora mas não tarda vai passar e tudo vai-te parecer bem melhor".

Boas férias pessoal!!!

p.s - dexter larga o Pc homem!
27 de março de 2009 às 09:27  
Blogger TheGuzzman argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Esta rapariga escreve mesmo bem.

Podes pensar que toda essa liberdade pode um dia acabar, mas as coisas não têm necessariamente de correr sempre de uma forma enfadonha e mímica.

Pensa antes que não vai ter os pais a dizer: -Não venhas tarde!.
Vais ter uma casa tua, e mesmo tendo de tomar conta dela, é aquele o TEU espaço e ninguém to pode tirar.

Pensa nisso.
27 de março de 2009 às 13:57  
Anonymous Anónimo argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
má notícia para esse mês e meio que te falta... é que desde os 16 anos que já podes ser presa! não te reconhecem responsabilidade para muitas coisas, mas para o crime já o és!
27 de março de 2009 às 15:28  
Blogger BG argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Não precisas de ter medo... eu adorei a minha adolescência, mas garanto-te que agora sou ainda mais feliz, apesar de todas as responsabilidade que advêm da vida adulta (eu acho mesmo que é vencer as dificuldades e que são essas responsabilidades que dão mais gozo a cada momento, que nos faz valorizar mais cada coisinha que conseguimos). Há medida que os anos vão passando vai sendo cada vez melhor, e tenho oportunidade de ter experiências que nessa idade não podia e são simplesmente maravilhosas! Até agora, esta é a fase mais bonita da minha vida. Por isso não tenho medo, porque tem sido sempre a melhorar!
É possível que haja uma idade de declínio, mas não me parece que esteja para breve, nem me apetece pensar nisso. Por agora resta-me aproveitar bem o prazer desta fase.
27 de março de 2009 às 15:54  
Anonymous Anónimo argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Gostei imenso do texto.
Descreveste bem a maneira como muitos escolheram viver
na "terra do Sempre":rotina, futilidade e Prozac. Ah, e muito mapling, muito "castrol",
para ajudar a Michelin a vender pneus. ;-)

Mas pode-se escolher, sabias? É essa a parte difícil, mas também boa de crescer.
Pode-se escolher agarrar no carro e conduzir até onde apetecer, só porque sim, e voltar-se diferente
do que se partiu, porque se encontrou aquela pessoa especial: nós mesmos.
Pode-se casar ou não casar, porque somos nós queremos, ou não.
Pode-se escolher os homens mais velhos ou os mais novos.

Mas há coisas que devem ser como uma religião: escolher sempre o trabalho que adoramos e
nunca nos conformarmos com uma segunda opção
e
manter por perto os nossos amigos, sobretudo aqueles que vieram connosco da terra do Nunca e sabem como é que foi.

(Credo, que testamento! :-P)

P.S. e VOTAR é muitíssimo importante.
27 de março de 2009 às 18:35  
Blogger Hugo Pais argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Boa reflexão... Mas crescer tem sempre os seus lados positivos, tirar a carta é excelente, a universidade é demais, ganha-se possibilidades de escolha que antes não se tinha, enfim, um rol de possibilidades pelas quais antes só se podia esperar, e nada mais. Quando chega o momento de viver determinado parte das nossas vidas, então tem é que se aproveitar! A adolescência tem coisas muito boas, mas tbm a tem a vida que se segue.
28 de março de 2009 às 03:37  
Blogger Hugo Pais argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Ah, e sim, não tentes aproveitar-te do mês e meio que te falta até aos 18 para cometeres um crime, que desde os 16 que podes ser presa :)
28 de março de 2009 às 03:40  
Anonymous Anónimo argumenta de forma nunca antes vista, dizendo...
Alriiight! :) obrigada pelas opiniões pessoal. Com a aproximação da vida universitária tenho vindo a pensar muito neste assunto, mas cheguei à conclusão de que todas as fases da vida devem ter o seu interesse. Mais vale parar de me preocupar com isso. Quem disse que eu não posso ser uma velhota de 80 anos toda maluca e com cabelo verde? E não concordo com o Dexter: Life Rocks!!! Boas férias nunca antes vistas ;D
3 de abril de 2009 às 18:25